domingo, 1 de agosto de 2010

Homossexuais e AIDS: A Epidemia Negligenciada
Acaba de ser lançada a edição especial de Cadernos Pela Vidda “Homossexuais e Aids: a epidemia negligenciada”. A publicação do Grupo Pela Vidda São Paulo alerta que pode estar em curso no país o recrudescimento da epidemia da Aids junto aos homossexuais masculinos, apesar da escassez de estudos, pesquisas e dados científicos capazes de precisar a real dimensão do problema.

Também aponta que são frágeis e limitados os indicadores que dão sustentação à tese, bastante difundida, de que há uma suposta estabilização e controle da infecção pelo HIV entre os gays no Brasil. Aqui no país a probabilidade de desenvolver Aids entre os homens que fazem sexo com homens é 18 vezes maior do que entre os heterossexuais, comprova Jorge Beloqui em artigo inédito e assustador sobre o risco relativo.

Não faltam evidências da progressão da epidemia entre os gays mais jovens e aqueles de baixa escolaridade. Somam-se à desmobilização das organizações da sociedade civil, a ausência governamental, a descontinuidade dos projetos, a limitada abrangência geográfica, e a baixa cobertura das poucas ações de prevenção em DSTs, HIV e Aids em curso dirigidas aos homossexuais.

As insuficientes atividades de prevenção voltadas à população LGBTT pecam, em sua maioria, pelo conservadorismo e pela “mesmice” do modelo adotado. As intervenções pararam no tempo. Não incorporaram os condicionantes da vulnerabilidade e nem sequer levam em conta a diversidade da população homossexual. Muitos projetos ainda consistem na mera distribuição de folhetos e de preservativos.

Os critérios de notificação, vigilância e acompanhamento da epidemia no Brasil, a partir dos casos de Aids notificados, dão um retrato do passado e não medem a propagação atual da infecção pelo HIV entre os homossexuais.
Além disso, existe importante subnotificação dos casos de Aids, principalmente da categoria de exposição homo e bissexual devido à dificuldade de relato dos indivíduos ou à negação dessa condição. Ou seja, a gravidade da epidemia entre os gays pode ser bem maior do que se imagina, principalmente em grandes centros, como a cidade de São Paulo, onde é nítida a insuficiência de ações.

A prevenção e a promoção da saúde são obrigações constitucionais do gestor público, que não pode delegar exclusivamente às ONGs as atividades de prevenção voltadas para os homossexuais.

Retomar a mobilização dos três níveis de governo e da sociedade civil e abordar homossexualidade e Aids, sem permitir o retorno do estigma, da discriminação e da equivocada noção de “grupo de risco”, que marcaram o início da epidemia, são grandes desafios.

Outra reflexão precisa ser feita: os inquestionáveis avanços obtidos no combate à homofobia, nas ações de visibilidade, no financiamento e na estruturação das ONGs de militância homossexual, não são suficientes para delinear uma política pública de prevenção em HIV e Aids dirigida aos homossexuais.

Ao trazer preocupações, estudos e dados atualizados disponíveis no Brasil e no mundo, Cadernos Pela Vidda espera contribuir para o debate qualificado que leve à superação deste problema que tem sido tão subestimado e negligenciado.

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